quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Rosa Amanda Strausz: a prosa de Ronaldo Monte


Cinco homens e uma mulher se reúnem em torno da fogueira. O mesmo gesto repetido há milênios pela humanidade. Ao fogo entregamos nossas indagações e perplexidades. Das chamas partilhadas saíram nossas crenças e mitos, nossa história e nosso conhecimento. Para os seis que ali se reúnem, no entanto, não existe grandiosidade. Nem esperança. São jovens, mas não conseguiram atravessar a ponte que separa a infância da vida adulta. Precocemente fracassados, perdidos em algum ponto do Nordeste brasileiro, perderam-se também do fio que conduz a vida. Em volta do fogo, partilham apenas a cachaça, a água que queima.
É para a miséria humana que se dirige a atenção de Ronaldo Monte em sue romance de estréia. Para as dores que atravessam o tempo e permanecem inexplicáveis. Para o sofrimento exaustivamente investigado por filósofos, poetas, cientistas, e jamais compreendido.
A prosa de Ronaldo Monte mistura a psicanálise e o catimbó, a filosofia e a tradição oral, o erudito e o popular, numa surpreendente teia de relações. Na Memória do Fogo, tudo arde – a começar pelo olhar do autor, que constrói amorosamente suas personagens, como se todas fizessem parte de uma mesma irmandade. E é nela que nos envolvemos ao iniciar a leitura. Como que hipnotizados pela luminosidade de uma fogueira primitiva, como que também embriagados pelo poder da palavra do romancista.

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